terça-feira, 26 de junho de 2018

Assédio Moral em Pessoa com Deficiência

   
   Sabe aquela brincadeirinha que a gente ouve quando criança, quando um adulto a repete insistentemente e você se sente constrangido? Sabe aquele irmão(ã) mais velho(a) que te perseguiu desde a sua infância exercendo a sua hierarquia autoritária sob o pretexto de te educar mas te submeteu a constrangimentos sem nenhuma necessidade? Sabe aquele irmão que culpou você por um evento trágico na família que resultou na perda de um familiar? Sabe aquele pai que te humilhou com uma brincadeira infame te comparando a um animal aleijado quando você foi compartilhar uma decisão importante da sua vida? Sabe aquelas pessoas com quem você convive que te insultam por causa da sua condição especialmente quando a sua personalidade é resultado de traumas que você sofreu na infância e adolescência? Sabe quando você é constantemente atacado de forma velada por pessoas próximas com frases do tipo "você é lerdo", "você não tem atitude", "você não resolve nada porque tem medo das pessoas", "você não tem nada na vida porque não estudou, fugiu da escola"? Sabe quando até o comportamento inadequado de um filho(a) seu é apontado como resultado da genética defeituosa do pai? 
   Essas e outras coisas fazem parte de um comportamento perverso praticado desde sempre que mais recentemente tem ganhado importância pelos resultados nefastos que tem produzido em suas vítimas. Doenças psíquicas, transtornos diversos, doenças físicas e até suicídio estão na lista de efeitos colaterais produzidos por esta prática.
   Muito tem se falado sobre o assédio moral no ambiente de trabalho onde geralmente o empregado sofre abuso do patrão ou superior hierárquico. Mas é no ambiente familiar que ele mostra sua faceta mais perversa. Sendo o lar onde deveria reinar a tolerância, o amor e respeito este muitas vezes esconde um ambiente sombrio de repressão onde a vítima do assédio se vê cada vez mais diminuída por ataques constantes muitas vezes justificados por seus algozes como como coisas pequenas ou brincadeiras sem importância. E até quando a vítima resolve enfrentar o agressor é obrigada a ouvir coisas do tipo "você é da geração mi-mi-mi" (termo popularesco usado para ofender pessoas que reclamam seus direitos). Há ainda o agravante de que quando as coisas acontecem em um ambiente familiar tendem a ficar escondidas sendo estes comportamentos aceitos dentro da "normalidade" das relações familiares. Isso caracteriza o ditado "A grama do vizinho é sempre mais verde" e não raramente, de dentro do lar feliz é que sai o estereótipo "mi-mi-mi" armado para invadir escolas e locais públicos e assassinar pessoas inocentes.
   Agora imagine que a vítima seja pessoa com deficiência!
  Essa pessoa já traz consigo toda a carga de uma vida cheia de dificuldades impostas pela sua condição peculiar, e é de se esperar que tenha dificuldades de socializar, de se aceitar, de se inserir na sociedade como um igual e frequentemente estas dificuldades geram transtornos como depressão e síndrome do pânico. Imagine por um instante o estrago físico e psicológico que o assédio moral pode provocar na vida desta pessoa que deveria ser aceita no âmbito familiar com respeito, cuidados, atenção e afeto. Suas necessidades devem ser observadas, suas potencialidades devem ser enaltecidas para que cresça a sua personalidade e desenvolva suas habilidades e caráter à altura de um cidadão de bem ou para além disso. 
   Afinal, uma pessoa não pode ser culpada por ser deficiente, nem por ter desenvolvido em sua infância transtornos de comportamento relacionados a sua condição.
   Felizmente isso não precisa mais ser assim. Temos uma legislação que, não só garante os direitos individuais da pessoa com deficiência como prevê a punição para quem os desrespeita, não importando em que esfera se situe.
   O comportamento citado acima tem um nome técnico (para efeito da aplicação da lei) e se chama "Assédio moral contra a pessoa em situação de vulnerabilidade com agravante de parentesco" e é passível de punição.
   É claro que, em se tratando de família as coisas são um pouco mais complicadas, eventualmente as pessoas dirão que "você está exagerando", "anda revoltadinho", mas é só o cansaço gerado durante uma vida inteira suportando humilhações e só você sabe como se sente quando recebe aquela alfinetada, aquele comentário malicioso, aquele insulto veemente. 
   O produto final disso é uma criatura formada de traumas e transtornos que padece de auto estima gradualmente perdendo o gosto pela vida enquanto gasta seu pouco dinheiro com acompanhamento psicológico. 
   E é justamente por isso que não se deve permitir que a sua dignidade seja aviltada por quem quer que seja. O que atenta sobre o seu equilíbrio emocional põe a sua vida em risco e sua vida é o seu bem mais precioso. 
   Não permita que façam isso com você, faça valer os seus direitos. Se informe, pesquise, converse com pessoas que tenham experiências semelhantes, aplique a lei se for necessário mas NÃO SOFRA CALADO!
   Se você está passando por isso saiba que a culpa não é sua, erga a cabeça, levante-se, identifique e puna os culpados. A lei está do seu lado.
   Este texto é baseado nas minhas próprias experiências e outras coletadas em vários sites. As informações aqui prestadas estão disponíveis em vários lugares bastando fazer uma pesquisa para o termo apropriado. Não há aqui nenhum texto copiado e colado de nenhum lugar, sendo o resultado a interpretação livre de vários textos e matérias disponíveis por isso os aspectos legais podem ser passíveis de erro de interpretação (e quando falo de interpretação inevitavelmente ouço o eco das palavras de uma pessoa que me diz "Você não sabe interpretar textos porque fugiu da escola"). 
   É preciso coragem para escrever o que estou escrevendo, estou dando a cara a tapas e aceito quaisquer críticas, comentários e correções de termos técnicos que porventura tenham sido usados de forma inapropriada e apesar de estar usando uma mídia digital, não o faço para me esconder. 
   Nenhuma das partes citadas foi exposta, todas as identidades foram preservadas.

  Meu nome é Oldair Vieira Gonçalves. Sou um cidadão renascentista, eternamente grato por tudo que a vida me oferece. Entretanto não posso me calar frente a essa realidade perversa e tenho a esperança que através deste manifesto pessoas que praticam este crime parem de praticá-lo.
   Se alguém se sentir representado através do que foi exposto aqui e quiser reproduzir o texto sinta-se à vontade.

3 comentários:

  1. Odair, você mexeu em algo difícil, pois como você disse, muitas vezes se refere a parentes e existe uma cortina sobre o que acontece em casa. O velho não lavar roupa suja em público.
    É delicado e difícil de ver, mas é bom que venha a público, pois tendemos a pensar só em nossos próprios problemas e esquecer tantos outros que estão por aí e das pessoas (o principal), que estão sofrendo com isto.
    Palavra fere.
    Meu sogro sempre foi um homem ativo, mas com a idade e a doença, hoje está à mercê de quem cuide dele. As filhas são muito prestativas, mas sei que não é fácil para ele. Tenho observado isto e pensado no futuro. Até onde chegarei e como estarei lá.
    Já que você permite no próprio texto, vou reproduzi-lo no blog do Forte Cultural.
    Qualquer coisa, estou aqui.

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  2. Obrigado Edi. Durante toda a minha infância e adolescência sofri com transtornos do tipo depressão e síndrome do pânico. Fui criado em uma família de mentalidade católica retrógrada e estas coisas nem tinham nome ainda ou se tinham não eram conhecidos. Eram chamadas de "frescura", nada que uma boa surra não resolvesse, e caso contrário bastava enfiar dentro da igreja e estaria resolvido. Mas acompanhamento psicológico, nem pensar. Eu não tenho sequelas apenas da polio mas também desses transtornos e isso ressoa até hoje na minha vida. Mas não tenho vergonha em admitir que preciso de ajuda profissional, ninguém deveria. Vivemos em um mundo difícil e para alguns, um pouco mais.

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  3. Muito bom o texto, infelizmente, a sociedade sempre tendeu naturalizar tantas atitudes prejudiciais ao pleno desenvolvimento do indivíduo que muitas sequelas e marcas ficaram em nossas gerações. E como professora de jovens e adultos com deficiência ainda vejo essas marcas na geração dos meus estudantes, o que me deixa muito triste... Mas não me calo, me posiciono e luto sempre para que tod@s @as pessoas tenham direito ao respeito, ao cuidado e possam desenvolver o amor próprio tão necessário à qualquer indivíduo. No entanto, como professora atuante e militante da inclusão e do ensino especial como todo também já sofri constrangimentos e desvalorização, pessoas diminuindo o meu trabalho e questionando minha atuação política e sentimental frente à inclusão. Mas seguimos na luta!!!

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