sábado, 31 de dezembro de 2016

Tecnologia Assistiva - Interface de Controle Para Processador de Efeitos

     Introdução
     Olá. Este projeto é destinado a guitarristas que, como eu são deficientes físicos ou por algum motivo perderam o movimentos das pernas (como o caso de Herbert Viana) e surgiu da necessidade de aproximar os controles do processador de efeitos (de agora em diante chamado de pedaleira) para diminuir o tempo entre as transições de patches bem como tornar possível as funções endereçadas ao pedal de expressão. Como sabemos, pedaleiras são feitas para serem operadas com os pés (daí o nome) e não adaptadas para pessoas como nós. 
     Até agora. 
     A pedaleira ficava sobre um banco ao meu lado onde eu acionava os controles com a mão direita. Depois das alterações os controles ficaram debaixo dos dedos.
     O primeiro modelo foi intalado em uma guitarra Stratocaster conectando-se em uma pedaleira Zoom G2. O segundo modelo (definitivo) em uma guitarra Zimmer-Collen Pacífica conectada a  uma pedaleira G3. Qualquer guitarra pode ser usada bastando fazer algumas alterações bem como qualquer pedaleira que possua os interruptores patches para frente e para trás e entrada de pedal de expressão.
     Nota: O objetivo deste blog é incentivar a produção e desenvolvimento de tecnologias que possam ser construídas pelos leitores então os projetos devem ser acessíveis e os materiais usados fáceis de se encontrar.

     Descrição
     A interface nada mais é do que a transferência das funções das 3 chaves de acionamento e o pedal de expressão para a guitarra através de um cabo com várias vias. O projeto é de nível básico e qualquer pessoa que consiga manusear uma furadeira e um ferro de solda conseguirá fazê-lo. Todo o circuito é montado em paralelo portanto a pedaleira não perde nenhuma de suas funções podendo ser usada normalmente mesmo com o cabo ligado.

     Componentes
     São usado neste projeto, além da guitarra e pedaleira os seguintes componentes: Cabo manga de 8 vias, conectores Mike de 8 vias, capacitores de 22nf/50v e interruptores push button normalmente abertos. Todo o material pode ser comprado em lojas de produtos eletrônicos físicas ou virtuais. Costumo comprar nesta loja: http://www.soldafria.com.br/.

Guitarra, pedaleira e cabo
 
Conector Mike e interruptores

     Montando o circuito   
     Notem no detalhe da guitarra, abaixo dos captadores as três chaves em sequência. A guitarra usada já foi construída para este fim portanto os furos para as chaves já foram feitos na sua origem. As chaves são presas ao escudo, o mesmo que comporta os captadores.

Escudo e chaves

     Notem também os capacitores de 22nf/50v em paralelo com as chaves (para os leigos, cada perna do capacitor em um terminal da chave). Isto é para prevenir "pops e clicks" que são gerados pela comutação dos interruptores especialmente neste caso em que o sinal de áudio viaja pelo mesmo cabo (Explicarei melhor à frente). Os três terminais do lado baixo da chave (lado de cima na foto) serão interligados e irão para linha negativa de todo sistema, o aterramento geral.

Cavidades para as chaves com as esperas (fios)
     Neste momento é bom dar conhecimento do diagrama esquemático do projeto. Facilita muito o entendimento geral.

Diagrama Esquemático

     Em seguida as esperas são ligadas às chaves.


     Monta-se o escudo com os captadores e vamos para a cavidade onde ficam os outros controles. Observem que usei fios coloridos para facilitar as ligações e evitar confusões. Se quiser comprar fios com as mesmas cores do cabo manga facilita ainda mais. O diagrama mostra as cores que usei no projeto.


     Parece confuso mas não é tanto. Observando atentamente se nota que está bem organizado com os chicotes e cores. Um detalhe importante é soldar um fio conectando a carcaça do conector mike ao aterramento geral do circuito, isso diminui a incidência de ruídos. 
     A respeito da saída de áudio do circuito, a primeira adaptação que fiz foi em uma guitarra stratocaster passiva, havia um cabo P10 para o sinal de áudio e outro para a interface. Apesar de não ser um incômodo, o sistema seria mais prático com um cabo só. Entretanto em um sistema passivo a impedância dos captadores tornam o sistema muito suscetível a geração de ruídos. A solução veio com um trio de captadores ativos. Para usá-los basta acrescentar uma bateria e um jack P10 estereo. A ligação correta do jack está no diagrama. Apesar do sistema ser conectado pelo cabo manga a saída P10 é necessária tanto para ligar a bateria como para manter o instrumento utilizável mesmo sem a conexão com a interface. Um plugue deve ser mantido ligado na entrada P10 para ligar a bateria. Feitas todas as ligações vamos partir para a pedaleira.

Conexões interface e saída normal podem ser usadas independentemente


     A pedaleira
     Uso a pedaleira Zoom G3 e como já expliquei, qualquer outra poderá ser usada desde que tenha as chaves para troca de patches (geralmente todas tem) e a entrada para pedal de controle (expressão).

Estes 3 botões terão suas funções reproduzidas nas chaves da guitarra

entradas P10  - 1 - áudio e 4 - controle

Conector Mike já instalado

     Desmonta-se com muito cuidado toda a pedaleira deixando somente a carcaça. Faz-se um furo na lateral ou onde preferir observando se o local acomoda o conector mike com sobra de espaço para as fiações. Provavelvente precisará de uma lima redonda para enlarguecer o furo. Depois de encaixado o conector, monta-se novamente a pedaleira deixando as placas soltas e parte-se para a soldagem dos fios seguindo o diagrama a seguir. 

      
     Na pedaleira todas as ligações serão em paralelo então não será necessário desligar nada. A soldagens das conexões das chaves devem ter os capacitores soldados primeiro. Depois soldam-se os fios. Vejam na foto.
Detalhe dos capacitores soldados na placa em paralelo com as chaves
     Feito isso, proceder com as soldagens dos jacks de áudio e controle. Estes ficam embaixo da placa principal. Muito cuidado nesta hora para não criar bolhas de solda e curto-circuitos na placa. Se possível conferir todas as conexões com um multímetro.


Detalhe das soldagens das entradas de áudio e controle
     Use um cabo blindado para a conexão de entrada de áudio para evitar ruídos.


 
     Depois de tudo pronto é só fechar. A montagem do cabo é muito simples. Basta seguir a numeração dos pinos no próprio conector obedecendo as cores do cabo manga. O cabo tem uma malha que deve ser ligada no pino de aterramento do conector, no meu caso eu usei o pino central. Todas as soldagens feitas no conector devem ser rápidas pois os pinos são afixados em uma base de plástico que quando aquecida em excesso se solta. Se não tiver experiência razoável com soldagens peça para um profissional fazê-las. Mas como o objetivo é que o projeto obedeça ao critério "faça você mesmo", treine um pouco antes de fazer as soldagens e com certeza conseguirá. Lembre-se: Disciplina e treinamento conduzem aos melhores resultados. Nunca subestime a si mesmo.
     
Cabo de conexão
      Novamente, se possível confira todas as ligações com um multímetro para prevenir soldas quebradas ou curto-circuitos. Monte tudo que faltou e teste. O sistema deverá funcionar com perfeição. O meu está funcionando a mais de ano e pode ser apreciado nas várias apresentações que faço com meus projetos DNP e Easy Hits. Quaisquer dúvidas me coloco à inteira disposição para respondê-las.

     Na próxima postagem disponibilizarei vídeos demontrativos de como usar o sistema de forma criativa. Até lá desejo a todos que tenham um bom ano novo e que seja um ano de grandes realizações.

     Oldair Vieira - Cidadão Renascentista

     Compartilhar Sempre - Gratidão Eterna

     Adendum - Ao invés de outra postagem preferi editar esta e inserir o vìdeo. Apreciem.



quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Tecnologia Assistiva - Um pequeno manifesto

     Ceilândia, 29 de Dezembro de 2016

     Olá.

     Meu nome é Oldair Vieira. Sou brasileiro, moro em Ceilândia, cidade satélite de Brasília - DF. Nasci em 1972 e neste mesmo ano me tornei deficiente físico após contrair o vírus da Poliomielite. Também neste ano iniciei meu tratamento no Hospital Sarah Kubitchek (Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação) http://www.sarah.br/ onde depois de algumas cirurgias e sessões de fisioterapia pude finalmente aos 6 ou 7 anos de idade andar com minhas próprias pernas através do suporte de órteses e bengalas. Desde então tenho feito acompanhamento com estes profissionais excepcionais e certamente me faltam palavras para agradecer de forma justa o que essas pessoas maravilhosas tem feito pela minha reabilitação e a de  muitos outros iguais a mim. 
     Um relato mais apropriado será motivo de outra postagem neste blog. No momento vou me ater ao objeto desta.
     Depois de uma experiência extraordinária que meu amigo Zé Carlos (obrigado, meu irmão!) classificou como transcendental, tive um "insight" de que deveria levar o conhecimento que adquiri ao longo da vida a outras pessoas que necessitassem. 
     Permitam-me explicar melhor: Sou músico, técnico em eletrônica e luthier (entre outras coisas), os equipamentos que uso são adaptados à minha necessidade. Descobri que sem me dar conta sou um desenvolvedor de Tecnologia Assistiva (termo este que até pouco tempo nem sequer sabia que existia) na área de música podendo ser um colaborador inclusive para outras áreas. 
     Conceito: No Brasil, o Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, instituído pela PORTARIA N° 142, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2006 propõe o seguinte conceito para a tecnologia assistiva: "Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social" (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República). Mais informações neste site  http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html.
     Em conclusão, o que atende às minhas necessidades poderá atender às necessidades de outrem em igual situação. Qual outro caminho óbvio senão compartilhar a informação que poderá levar a mudança às vidas de outras pessoas?  
     Eis-me então em um momento de inspiração, quando um sem número de ideias me ocorrem como a explosão do big-bang, em projetos que tornariam possível a pessoas com deficiência nos mais diferentes graus terem acesso a produção de uma das mais sublimes formas de expressão artística - a música.
     Sendo assim esta é a contribuição que eu posso e quero dar para tornar a sociedade mais inclusiva diminuindo as barreiras e unindo as pessoas através de uma linguagem universal que não se submeta a preconceitos. Todo pessoa merece viver sua vida com plenitude, sendo tudo que pode ser independente de sua limitação física, viver por inteiro e não pela metade.
     Neste momento inicial isto pode parecer apenas um bocado de palavras  representando um conjunto de ideias em um blog desconhecido. Entretanto, as ações já estão em curso e a próxima postagem será a construção da interface que eu uso para acionar funções de um processador de efeitos de forma remota através dos controles de uma guitarra. Um recurso que me dá completa independência uma vez que não posso acioná-las com os pés.
     Outros debates virão com o tempo mas para não me alongar muito fico por aqui com este pequeno manifesto e introdução aos trabalhos que virão. Desde que voltei aquele lugar mágico onde se recuperam não só movimentos mas pessoas, auto estima e tantos outros valores me sinto recarregado de energias para encarar os maiores desafios. 
     À seu tempo, agradecerei abertamente às pessoas que tornaram isso possível. Um sonho está tomando forma.

     Aqui, um cidadão renascentista eternamente grato por tudo que tem vivido. 


Eu, fazendo graça com tutores longos e bengalas.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Double Neck Parte 1

Bom dia para todos.
   
     Há alguns meses atrás fui agraciado com a proposta de iniciar uma etapa diferente nos trabalhos da luthieria. Esta veio através do meu amigo, músico excepcional e baixista do trio Protofonia André Gurgel que me encomendou nada mais, nada menos do que dois instrumentos novos, dois desafios, na verdade.
     Em primeira mão gostaria de agradecê-lo pela oportunidade e confiança em acreditar que estou à altura de tal proeza.
     Vou separar os trabalhos em dois tópicos para facilitar e o primeiro deles será o double neck. A saber, trata-se de um instrumento de dois braços que pode ter configurações distintas (2 guitarras de 6 cordas, uma de 6 e uma de 12, baixo e guitarra de 6, baixo e guitarra de 12 etc...). Neste caso será uma guitarra de 6 cordas na parte de cima e um contra baixo de 4 cordas na parte de baixo.
     Conforme as novas diretrizes do blog todos os trabalhos serão postados passo a passo com o máximo de detalhes técnicos possível.
     Antes porém, cabe um esclarecimento. É sempre bom lembrar que não existe método exato para se construir um instrumento, o conjunto de técnicas aplicadas aqui podem divergir de outras usadas por outros luthiers e sempre cabe discussão a respeito de qual método será mais adequado para se chegar ao resultado desejado. Toda sugestão será sempre muito bem vinda.
     Deve-se ter em mente sempre que antes de começar um projeto é preciso saber o que se quer e o resultado que pretende alcançar obedecendo uma sequência lógica de ações para não se perder no caminho. Disciplina é fundamental em qualquer atividade humana e aqui não será diferente.
     Sendo assim começaremos com o desenho do instrumento.

     Este desenho reúne dois instrumentos Zimmer-Collen. O corpo e braço de guitarra são do modelo "Pacífica" e o braço do baixo do modelo "Tritão". O desenho foi feito através do software Inkscape de distribuição gratuita https://inkscape.org/pt-br/baixar/ usando as ferramentas caneta bezier e edição de curvas em sistema Linux nativo. Para quem ainda não conhece esses modelos aí vão as fotos. 



      Diferente dos modelos já construídos o DN (para encurtar) terá na guitarra captadores humbuckers com chaveamento double/single e o baixo captadores single. O método de construção será o mesmo usado no Tritão.

Escolha das madeiras e hardware

     Um instrumento deste porte deve obrigatoriamente levar em consideração o peso que deve ser o menor possível para não causar lesões ao músico. As madeiras escolhidas foram as mesmas do Tritão que mostrou ótimo resultado de estabilidade e sonoridade e beleza estética. Para o braço serão usados Jequitibá com miolo de Marfim separados por duas tiras de Imbúia. Escala de Ipê. No corpo uma prancha de 4 cm  de Marupá coberta com uma camada de Imbúia e outra de Amapá com tróculo semelhante ao braço. As madeiras foram compradas na JB Madeiras em Taguatinga Norte (falar com Sérgio ou Waldson).
     O hardware deverá seguir o mesmo critério de peso.

Cortes

    De posse das madeiras é hora seccionálas nas medidas certas. Foram cortadas 2 peças de jequitibá (30x40x900 cm), 1 peça de marfim (9x4x900 cm) para o braço do baixo, 2 peças de jequitibá (30x40x700 cm), 1 peça de marfim (9x4x700 cm) para o braço da guitarra, 4 peças de jequitibá (30x40x450 cm), 2 peça de marfim (9x4x450 cm) para os tróculos e várias fitas de laminado de imbúia para o acabamento entre as peças. Também foram cortadas 3 peças de marupá nas medidas 4x17x45 cm e 3 lãminas de imbúia e amapá nas medidas de 15x45 cm. Obs.: Os cortes foram feitos em medidas ligeiramente maiores e depois aplainados no desengrosso até chegar às medidas corretas.


Montagem das peças

     Tanto os braços quanto os tróculos obedecem ao mesmo critério de montagem, é feito um sandwiche com as madeiras na seguinte sequência: jequitibá - imbúia - marfim - imbúia - jequitibá. Aplica-se cola, junta-se as peças e prende-se com morsetes.


Madeiras antes da colagem

 Detalhe de um tróculo já colado e aplainado novamente

De cima para baixo: Braço da guitarra, tróculos e braço do baixo

Prancha do corpo e lâminas antes da colagem
 
Prensagem

     Depois de coladas as peças devem ser aplainadas novamente. Nas fotos acima se pode apreciar o acabamento final nas junções, um detalhe muito bonito.

     Por enquanto é isso. Próximo passo: Medidas e construção das escalas. Aguardo todos por aqui.

     Oldair Vieira - Cidadão Renascentista

     Compartilhar sempre - Gratidão eterna

domingo, 18 de dezembro de 2016

Re-voltando

Olá a todos.

Passando por aqui (depois de uma longa ausência) para informar que haverão atualizações durante as próximas semanas e o anúncio de mudanças na política de funcionamento da empresa Zimmer-Collen. Novas linhas de produtos estão programadas para 2017 e também a criação de um departamento de desenvolvimento de equipamentos voltados para pessoas com deficiência física. Também à partir de janeiro todos os projetos desenvolvidos serão publicados na íntegra com esquemas, layouts de PCI e todos as informações necessárias para reprodução.

Melhores dias para todos - Compartilhar sempre!

Oldair Vieira Gonçalves - Cidadão Renascentista