domingo, 26 de fevereiro de 2017

Pedal Trilegal II - A revanche

   

     Aháá!! Ele está de volta. Depois do sucesso do primeiro pedal trilegal que foi o do Marcus Viana (Beatlemania) agora foi a vez de Jeff Sena (Terno Elétrico) adquirir o seu exemplar. Desta vez Jeff queria um pedal com duas distorções para base e solo e algo para dar uma "molhadinha" no som da sua guitarra. Logo sugeri o D.O.C. para base, RATO para solo e EASYVIBE para aquela molhada.
     Para não delongar muito serei mais objetivo, vocês já conhecem os detalhes de construção de pedais então vou me ater as modificações que fiz para tornar o projeto mais prático. Vamos aos circuitos. O D.O.C (OCD) é um overdrive da Fulltone muito conhecido, tem um som limpo podendo chegar a saturar como um ampli Marshall. É ótimo para bases com pouca distorção e para solos quando o controle "drive" está no máximo.


     Aí está. Os componentes críticos são os transístores BS 170 (2n 7000) e o diodo de germânio 1n 34 (qualquer um diodo de sinal serve desde que seja de germânio). Neste aí apenas eliminei a chave de boost e acrescentei o Milenium Bypass que vou explicar depois.
     O próximo é o Rato (Rat) da Pro Co. É uma distorção hard com ótimas características. Tem baixíssimo ruído com grande range podendo ir de overdrive até um fuzz.
     Aqui o componente crítico é o C.I. LM 308, não tem como substituir por suas características porém é fácil de se encontrar em lojas. O FET de saída pode ser o BF 245 A,B ou C.
     E pra finalizar, o Easy Vibe. Este circuito foi desenvolvido por John Hollis com objetivo de recriar o som do Univibe em um circuito mais simples com componentes mais acessíveis. 

     Não há componentes críticos. Pode ser montado como está aí e vai funcionar perfeitamente. Eu porém, não gostei muito do resultado e fiz várias modificações. Vamos à elas: 1 - O diodo e os leds da tensão de referência foram removidos e substituídos por um resistor de 10K, assim a tensão neste ponto fica em exatamente metade da tensão da fonte. 2 - Os capacitores dos filtros "All Pass Network" ficaram todos com o mesmo valor de 22 nf. 3 - Os diodos em paralelo com o controle "depth" foram removidos. 4 - O resistor da chave Vib/Chorus que vai à tensão de referência foi desligado desta e religado ao terminal de entrada negativa do filtro nº 2 para uma coloração diferente.   
     O Milenium Bypass.
     Este circuito surgiu nos pedais Rat e tem por função acender um led usando apenas um terminal da chave de Bypass. Porquê? Para manter a função True Bypass da chave analógica de 6 terminais (DPDT - 2 polos e 2posições). Como funciona? Um transístor é posto em condução à partir de um divisor resistivo na sua entrada usando como referência a impedância de saída do circuito. A corrente que circula por ele faz acender o led quando a carga é removida da entrada. Muito simples, o problema é que este circuito original usa um FET (Transístor de efeito de campo) e um resistor de 22M (?) no gate. O FET tem de ter ganho A ou B senão o led não apaga totalmente e o resistor de 22M é impossível de achar. Solução? Criei minha própria variação do circuito usando um transístor bipolar ordinário (e quanto mais ordinário melhor), o BC 547 B. Funciona melhor que o original. 


     Note que a impedância de saída do circuito deverá estar em torno de 100k senão terá que recalcular o valor do resistor de 1M5. 
     É isto. Não há nada mais relevante em relação aos circuitos. Vamos às placas.
     Bom, quando iniciei este projeto não era minha intenção fazer um passo a passo por isso não fiz a lista de peças e a identificação dos componentes no layout. Mas isso não será problema para quem já tem alguma familiaridade com montagens afinal os desenhos estão aí bem mastigadinhos. Nas placas do Rato e O.C.D. eu incluí o circuito do True Bypass em sua forma original por isso será necessário trocar os componentes e observar a pinagem do transístor.
     Para a caixa de metal, eu as encomendei na Dimaço em Taguatinga. Basta fazer o desenho e eles executam. É muito barato, vale a pena. Depois é só furar, pintar, customizar etc. 
     Como disse, não era a intenção... portanto, quaisquer dúvidas entrem em contato, por favor. Terei prazer em esclarecê-las. Deixarei então as imagens do pedal pronto. Logo teremos vídeos e test drives.






     Enfim, pedal pronto, testado e aprovado.

     Aqui, (vocês já sabem) um cidadão renascentista...compartilhar sempre

     Gratidão Eterna

     Oldair Vieira


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Double Neck Parte 2

     Pois bem, as escalas!!
     É bem comum no mundo da lutheria os luthiers comprarem os templates (moldes ou modelos) das escalas em lojas especializadas ou copiarem de outros instrumentos já consagrados. Aliás, a cópia é uma prática bem comum neste ofício, a maioria dos luthiers não criam novos modelos ou sequer desenvolvem novas técnicas e tecnologias para a produção de instrumentos. Tudo se baseia na "tradição".Entretanto, se você quer se tornar um profissional deve aprender as técnicas corretas. Dado que há por trás disto um conceito de tradição poucos se aventuram a inovar. Eu, com certeza estou disposto!
     Porém, sendo a divisão da escala musical uma função matemática não há muito o que inventar a não ser o tamanho desta. Aqui, introduzirei um conceito diferenciado para se definir o tamanho das escalas. Em primeiro lugar levarei em consideração que um instrumento de 2 braços sendo baixo e guitarra pode ter como vantagem escalas que se aproximem ligeiramente em tamanho para que a transição entre um e outro não seja tão drástica. Sendo assim tornarei a escala do baixo um pouco mais curta (uns 4 cm + ou -) e da guitarra ligeiramente mais longa ( 1 cm). Como a distribuição das medidas é feito traste à traste será pouco perceptível entretanto proporcionará conforto na hora de tocar.
     Aqui entra um segundo conceito mais subjetivo. O trio Protofonia afina seus instrumentos em 432 hertz, a frequência universal cujas subdivisões são exatas. Não vou adentrar o assunto mas quem quiser pesquisar pode acessar este link para ter uma noção do que se trata Afinação Natural do Universo. Com base nesta informação encontrei através de subdivisões os tamanhos de 64 cm para a guitarra e 81 cm para o baixo.
     De posse das medidas é hora de começar os cálculos das posições dos trastes. A escala de um instrumento não é linear, se você dividí-la em 12 partes iguais não vai afinar! A essa altura você já observou que as casas próximas à pestana (nut) são mais largas e ficam mais estreitas à medida que avançam na escala ( desculpem o óbvio mas isso é pra ser um manual prático). Constatamos então que a escala musical é logarítmica sendo inversamente proporcional para medidas métricas, ou seja: para cada oitava acima a frequência dobra enquanto na métrica o tamanho diminui pela metade. Ná prática se tivermos uma escala de 64 cm da ponte até a pestana e uma corda afinada em lá 108 hz ao dividirmos a escala no meio exato teremos 32 cm (metade da medida) e a nota lá 216 hz (dobro da frequência). Até aí está fácil. Mas como encontrar as medidas dos intervalos musicais dentro da oitava?
     Durante o tempo em que as cordas de instrumentos eram feitas de tripa os luthiers usavam a famosa regra de 18 que consistia em divisões sucessivas do tamanho da escala por 18 sempre subtraindo a diferença encontrada na divisão anterior. Confuso? Eu explico. Pegue o tamanho total da escala (da ponte à pestana) e divida por 18. Esta medida será a posição do primeiro traste à partir da pestana. Subtraia esta medida do total. O que sobrar divida novamente por 18. Esta medida será a posição do segundo traste. Subtraia esta medida do total. O que sobrar divida novamente por 18 e assim sucessivamente até chegar na quantidade de trastes que desejar. Perfeito? Não. Este método contém um erro. Para uma escala de 62 cm há uma derivação de aproximadamente 2,5mm. Porquê foi usado durante tanto tempo e ninguém percebeu? As cordas de tripa, lembram? Elas exibem uma derivação natural na afinação. Então descobriu-se que o divisor correto é o número 17,817. Refaça os cálculos e dará certo.
     Ok, É importante que se faça os cálculos para se aprender embora seja um trabalho custoso. Entretanto existem softwares que fazem isso pra você. Vou deixar o link de um site onde encontrá-lo. Aliás, onde encontrei a maioria das informações aí postadas.http://liutaiomottola.com/formulae/fret.htm
     Procedendo com os cálculos no papel e no software cheguei às mesmas medidas o que demonstra na prática que o processo está correto. Vamos a elas.
     Medidas para a guitarra:

     Medidas para o baixo:


     As escalas são duas peças de ipê medindo 70x06 cm com 0.7 cm de bitola. Use desengrosso para chegar na espessura correta.
     Pela minha experiência as escalas são peças pequenas e finas difíceis de se prender em outras máquinas para se trabalhar tornando-se suscetíveis a erros em especial os cortes para os trastes que exigem precisão. Por isso prefiro colar primeiro e depois fazer os cortes. Para tanto é necessário se fazer as canaletas para inserir os tensores. Não tem segredos. Faz-se a marcação com um lápis exatamente no centro do braço e corta-se com a tupia. Note que deve usar uma fresa com a medida exata do corpo do tensor. Vocẽ pode escolher entre a bala embutida ou aparente ( a bala é aquela cabeça do tensor onde se coloca a chave allen para ajuste), eu uso embutida. Neste local o corte é mais largo pois a chave precisa ter espaço para girar quando for fazer o ajuste.
     Vejam as fotos:




     Estando tudo ajustado e encaixado é hora de colar. Mas isso será no próximo capítulo. Até lá!

     Aqui, um cidadão renascentista compartilhando suas pequenas descobertas.

     Gratidão eterna.

     Oldair Vieira