domingo, 28 de setembro de 2014

O diário da construção de uma guitarra - Parte 8

Dando sequência ao projeto, seguimos em frente. Uma vez aplicado o acabamento lateral na escala (bindings) vamos para a aplicação dos trastes. Resolvi usar os trastes que havia comprado no ebay porque estes já vem cortados, curvados e aparados. Entretanto tomei a decisão de mudar uma coisa, a largura do braço na altura do traste zero, deixei 2 mm mais largo, o que não parece muito mas faz uma diferença brutal principalmente quando se vai fazer um acorde como um ré maior e os dedos ficam todos embolados e as cordas abafadas (problema de quem tem a mão grande). Esta decisão complicou um pouco as coisas pois esta diferença fez com que os primeiros trastes ficassem muito pequenos em relação ao braço tendo que serem substituídos por outros que eu tinha guardados (e não eram exatamente iguais). Moral da estória? Lascou! Fui assim mesmo. Ajusta daqui, ajusta dali e ficaram todos com a mesma altura mas alguns um pouquinho mais largos. Aceitei que eventualmente terei que trocá-los todos se for realmente necessário afinal de contas a escala é a parte mais importante do instrumento. Enfim, depois desta peleja aí está o braço entrasteado.

Só um detalhe, esta foto mostra além dos trastes colocados a parte de trás do braço já formatado, o que seria o próximo passo porém eu esqueci de tirar a foto antes do processo então na próxima foto vemos o braço formatado por trás.


Ok. Podem me chamar de mão de vaca, unha de fome, sovina ou qualquer outra destas qualidades mas tem coisas que não dá pra engolir tipo pagar 5 mangos num pedaço ridículo de osso. Meu cunhado tinha um velho dominó que havia perdido algumas peças e não servia mais pra nada. Pedi a ele umas três e guardei. O resultado? Olha aí:


É isso aí, larga de preguiça e bota a mão na massa. Cada peça de dominó dá pra fazer umas 4 pestanas (nuts), é só cortar e lixar. O dominó tem 28 peças x 4 = 112 pestanas! Quanta economia! A seguir vemos a pestana lixada até o tamanho exato e em seguida a colagem no braço.



E por hoje é só. Nos vemos em breve. Obrigado e não esqueçam de comentar.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O diário da construção de uma guitarra - Parte 7

Earr!! Onde é que eu tinha parado mesmo? Depois de uma semana tumultuada finalmente estou de volta com algumas atualizações. Ah, sim. Voltando ao braço. Primeiro vamos colar as lâminas sobre a paleta (headstock). Pra ganhar um pouco mais de volume usei duas, uma de cedro primeiro e por cima desta outra de imbúia. Note que para este tipo de colagem dar certo eu não usei cola de contato como os marceneiros geralmente usam, já tive muitas experiências ruins com laminados criando bolhas com o tempo. Usei cola branca e para isto é necessário prender bem as placas usando algo que tenha o tamanho da superfície que vai ser colada usando grampos de pressão. Vejam na foto.



Depois de algumas horas já se pode trabalhar, a cola é de secagem rápida. Muito bem, depois coladas as lâminas vamos fazer os furos das tarrachas. Como é serviço muito básico não precisa de foto nem explicação, apenas escolha uma broca da espessura certa, prenda a peça e fure. Depois vamos formatar a paleta. Use as ferramentas que forem necessárias para cada corte sendo serra tico-tico ou broca específica variando de acordo com o desenho. Este é o meu desenho, vejam abaixo:



Ok, ora de fazer um serviço bem chato: Bindings. Acabamentos laterais de PVC. Quem quiser pode comprar estas fitinhas no mercado de luthieria que não custam caro mas também não é barato. Eu que não sou besta fui numa casa de ferragens e comprei fitas para acabamento de móveis. Escolhi uma bem grossa (tem de várias espessuras), 2 mm de espessura por 3 cm de largura e daí tem que cortar na extensão. Prendi com um pedaço de chapa de ferro e passei o estilete, dá um pouco de trabalho mas vai! Observem.


Cortadas as fitas temos que fazer o encaixe no braço. Para este serviço usa-se a tupia com uma fresa adaptada cujo rolamento guia foi trocado por um menor criando uma reentrância na madeira. Veja as fotos.



Então é só colar! Usaremos esta colinha maravilhosa mas com muita atenção pois ela seca rápido e cola os dedos também.


o

Esperamos secar mais ou menos uns 20 minutos e lixamos. Está pronto o acabamento lateral do braço. Por hoje é só. Até breve e muito obrigado.



quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Diário da construção de uma guitarra - Parte 6

O braço - a fronteira final...
Vamos ao bicho de sete cabeças - a escala. Bom o que dizer? Você pode pegar uma régua de cálculos e dar uma de Aristóteles criando a sua própria escala ou copiar diversos modelos que já estão prontos e afinam muito bem. Eu escolhi a segunda opção porque não sou besta e resolvi copiar a escala da minha guitarra Jolana repetindo o padrão da guitarra de 12 cordas já que deu muito certo. Aí está a Jolana. Esta guitarra tem uma estória muito interessante mas contarei em outra oportunidade, por enquanto vamos apenas apreciá-la.



Depois da escala devidamente copiada e marcada vamos aos cortes. Talvez alguns se perguntem porquê eu ainda não formatei o braço já dando suas curvas. A resposta é simples: preciso do braço ainda quadrado e com a escala uniforme para poder apoiá-lo melhor na hora de cortar os orifícios dos trastes já que assim fica mais fácil de colocar no esquadro senão teria que usar alguma ferramenta extravagante para prendê-lo. A foto abaixo mostra a ferramenta que usarei e se chama serra meia esquadria (ela corta esquadria inteira também... há há há)


E aí me perguntam: essa é a ferramenta certa para o serviço? Não, mas quem não tem cão caça com gato! Um serrotinho para trastes só é vendido na gringa e custa uma pequena fortuna e sabe qual é a diferença? A espessura do corte. Então descobri que existe uma serra para metais para ser adaptada nesta geringonça aí, dei uma volta em Taguá e achei em uma loja. O corte ainda é um pouquinho mais largo do que o ideal mas isso me dá uma possibilidade ao invés de desvantagem. Com o traste encaixando mais facilmente no orifício eu não preciso bater nele com o martelo evitando que este se deforme. Posso até tirá-lo e recolocá-lo diversas vezes até achar a posição correta, depois é só fixar com super cola. Vamos aos cortes. Em seguida: serra em uso e escala com cortes prontos.




Por hoje é só. Amanhã, se der tempo continuo...Muito obrigado e até breve. E não se esqueçam de comentar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Diário da Construção de uma Guitarra - Parte 5

Bom, depois de todas as peças do tampo coladas é hora de recortar e lixar as bordas. Notem nas  fotos 3 e 4 o detalhe do rebaixamento das bordas. No final das contas nem ficou tão gordinha quanto imaginei que ficaria, ficou uma gracinha (Rsrsrsr). Como este é um trabalho demorado é o que temos para hoje. Breve teremos mais novidades. Até...



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Diário da construção de uma guitarra - parte 4

E no capítulo anterior... ficou faltando uma foto. Olha ela aí:

Muito bem. Depois de coladas as peças laterais da paleta colaremos a escala no braço. Lembrando que este foi o método de construção que escolhi. Não existe regra para se fazer as coisas desde que se faça bem feito e com atenção para não ter que ficar consertando erros depois.



Use a maior quantidades de grampos fixadores possível, quanto melhor o contato melhor a colagem. Vejamos a escala depois de colada ao braço:


Enfim, finalmente chegaram as tábuas de jequitibá.Optei por fazer desta maneira: fiz os cortes dos captadores e braço e rebaixei por trás o lugar das bocas em F. Achei mais fácil assim! Hora de colar...




Mais uma vez aguardaremos a secagem e daremos prosseguimento. Por enquanto é só. Muito obrigado e até breve.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Diário da construção de uma guitarra - parte 3

Então, como eu dizia...Não resisti. Vamos em frente. Pois bem, hoje levantei cedo para encarar uma missão: cortar a parte de trás da paleta com um serrote porquê não dava com a serra circular, não tinha apoio. Fui até uma lojinha aqui perto e disse ao vendedor: me dê o melhor serrote que você tiver aí (porquê serra circular é coisa de fresco, cabra que é macho mesmo corta é com serrote)! Veja que o corte é longitudinal, 50 vezes mais difícil que o normal!


Ufa! Ainda bem que o serrote é realmente bom, já pensou? Enfim, depois de cortado hora do maníaco da lixadeira! Essa maquinazinha  faz estrago. Use com moderação.


Peça desbastada, hora de procurar nas sucatas uns toquinhos que tinham sobrado para emendar a paleta.


Antes porém, parada obrigatória para fazer o rango da patroa senão não tem diversão mais tarde. E depois do almoço...(também sou filho de Deus, né?)


Hora de voltar para o batente, aí estão os toquinhos. Note que estão sobre uma plaina manual adaptada para bancada, idéia excelente que achei no youtube. Esse negócio é uma mão na roda...



Outro macete que descobri por aí foi este: toda vez que lixamos uma peça, inevitavelmente ela arredonda os cantos. Para evitar isso colocamos a peça que queremos lixar entre duas outras fazendo um sanduiche. Assim a do meio fica certinha. Isso é necessário para peças de encaixe. Use dessa lixa aí, é cara mas vale a pena senão o serviço não anda.


Por fim, aí estão as peças coladas na paleta. Aguardaremos a secagem e daremos prosseguimento. Por hoje é só. Vou comer um pouco do doce de abóbora que fiz ontem. Obrigado e até breve. E não esqueçam de comentar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O diário da construção de uma guitarra - Parte 2

Hoje é segunda feira e não decretamos feriado, tampouco chamei Don Paulo Coelho. Como é dia de branco precisei trabalhar ao invés de ficar fazendo guitarra afinal tenho contas para pagar. Mesmo assim ainda deu pra fazer alguma coisa. Vamos lá. Nas fotos abaixo pode-se ver o corte longitudinal para encaixe do tensor que é de dupla ação, ou seja enverga pra os dois lados. Usei tupia para o corte, micro retífica com broca helicoidal para o ajuste mais fino e tubo de lixa para o acabamento.



Também arranjei uma camera melhor para fazer as fotos! De celular não vale não é? Bom, por hoje é isso mas para fechar com chave de ouro aí vai a foto do doce de abóbora que eu ofereço com muito apreço para o André Chayb do Protofonia que também adora abóboras. Rsrsrs.


Que ficou bonito, ficou! Se alguém quiser a receita é só pedir aí embaixo nos comentários. Obrigado e até breve com mais um capítulo da construção da guitarra.

sábado, 6 de setembro de 2014

O diário da construção de uma guitarra.

Por onde começar? Pelo começo. E quando se trata de construir alguma coisa, começo significa adquirir todo o material necessário e também todas as ferramentas. Já faz algum tempo que venho juntando peças e maquinário para tornar possível minha empreitada porém resolvi começar apenas quando tivesse em posse de tudo que precisasse  e assim foi. Justo porquê não quero ficar enrolando. Quero começar e terminar rápido como tem que ser. Pois bem, esta guitarra vai ser a segunda feita totalmente na oficina de luthieria Zimmer-Collen. A primeira foi a de 12 cordas. Paralelo a esta está sendo construído um double-neck estilo Shergold tipo aquele do Mike Rutherford (modular também) com corpos intercambiáveis. Este deverá levar algum tempo pois ainda faltam algumas peças para serem adquiridas. Mas voltando a guitarra, esta será no modelo original igual a de 12 cordas mas com cavidades internas (semi hollow) e bocas em F. Para o corpo selecionei duas peças de cedro rosa coladas e tampo em jequitibá. Para o braço uma peça bem madura de marfim que estava guardada à uns 15 anos e escala em ipê. As primeiras fotos mostram o cedro colado e marcado para os furos iniciais, primeiros cortes e cavidades.


Nas fotos abaixo agora podem ser vistas as cavidades para os captadores e controles bem como a cavidade de ressonância onde ficarão as bocas em "f". Também em seguida o braço pré formatado em marfim e a escala em ipê já abaulada com o raio de 12 polegadas. Note atrás do braço o tubo de lixa de raio (invenção minha) que diminui em 70% o tempo do serviço e a barra de lixa de raio para acabamento final da escala. Amanhã farei o encaixe do braço e formatarei o corpo e se sobrar tempo farei um doce de abóboras (adoro)!



Pois bem! Domingo de tarde, hora de botar a mão na massa de novo. Depois de passar 40 minutos procurando uma fresa que eu não sei onde foi parar (porquê a minha oficina é uma zona) resolvi ir para o plano B. A próxima foto mostra os rebaixamentos para encaixe das tampas traseiras da chave e potenciômetros bem como a placa que sustenta o braço.


Estes entalhes foram feitos usando uma mini retífica com guia de corte e uma broca helicoidal. Abaixo o corte para encaixe do braço.


Próximo passo: O maníaco da serra tico-tico entra em ação (ainda bem eu não tenho que arrancar pedaço de ninguém com essa serra se não ia demorar e doer pra cacete).


Abaixo o corpo cortado com a famosa "gordurinha", um ou dois milímetros pra fora do corte para garantir qualquer erro da serra.



Nesta altura do projeto me dei conta de que cometi um errinho básico. A peça que usei tem a bitola de 40 mm e não 35 mm como deveria ser sendo então que o corpo vai ficar um pouco mais grosso do que eu planejei por causa do tampo de jequitibá que vai por cima. Não invalida o projeto, só vai ficar um pouco mais gordinha. Talvez seja até um charme, tenho visto cada gordinha lindinha por aí...

Na sequência, mais uma invenção para ganhar tempo e melhorar o serviço: Tubo de lixa adaptado para furadeira de bancada. Com esta lixa amarela de 36 grãos esta coisinha come mais e mais rápido do que o Gugu quando acorda!

Depois de lixada aí está a peça pronta para a próxima etapa: receber o tampo.



Bom, já está um pouco tarde e o doce de abóbora vai ficar pra amanhã. Cansei!


Comentem no final da página. Comentários são bem vindos. Obrigado e até breve.