Há alguns meses atrás fui agraciado com a proposta de iniciar uma etapa diferente nos trabalhos da luthieria. Esta veio através do meu amigo, músico excepcional e baixista do trio Protofonia André Gurgel que me encomendou nada mais, nada menos do que dois instrumentos novos, dois desafios, na verdade.
Em primeira mão gostaria de agradecê-lo pela oportunidade e confiança em acreditar que estou à altura de tal proeza.
Vou separar os trabalhos em dois tópicos para facilitar e o primeiro deles será o double neck. A saber, trata-se de um instrumento de dois braços que pode ter configurações distintas (2 guitarras de 6 cordas, uma de 6 e uma de 12, baixo e guitarra de 6, baixo e guitarra de 12 etc...). Neste caso será uma guitarra de 6 cordas na parte de cima e um contra baixo de 4 cordas na parte de baixo.
Conforme as novas diretrizes do blog todos os trabalhos serão postados passo a passo com o máximo de detalhes técnicos possível.
Antes porém, cabe um esclarecimento. É sempre bom lembrar que não existe método exato para se construir um instrumento, o conjunto de técnicas aplicadas aqui podem divergir de outras usadas por outros luthiers e sempre cabe discussão a respeito de qual método será mais adequado para se chegar ao resultado desejado. Toda sugestão será sempre muito bem vinda.
Deve-se ter em mente sempre que antes de começar um projeto é preciso saber o que se quer e o resultado que pretende alcançar obedecendo uma sequência lógica de ações para não se perder no caminho. Disciplina é fundamental em qualquer atividade humana e aqui não será diferente.
Sendo assim começaremos com o desenho do instrumento.
Este desenho reúne dois instrumentos Zimmer-Collen. O corpo e braço de guitarra são do modelo "Pacífica" e o braço do baixo do modelo "Tritão". O desenho foi feito através do software Inkscape de distribuição gratuita https://inkscape.org/pt-br/baixar/ usando as ferramentas caneta bezier e edição de curvas em sistema Linux nativo. Para quem ainda não conhece esses modelos aí vão as fotos.
Escolha das madeiras e hardware
Um instrumento deste porte deve obrigatoriamente levar em consideração o peso que deve ser o menor possível para não causar lesões ao músico. As madeiras escolhidas foram as mesmas do Tritão que mostrou ótimo resultado de estabilidade e sonoridade e beleza estética. Para o braço serão usados Jequitibá com miolo de Marfim separados por duas tiras de Imbúia. Escala de Ipê. No corpo uma prancha de 4 cm de Marupá coberta com uma camada de Imbúia e outra de Amapá com tróculo semelhante ao braço. As madeiras foram compradas na JB Madeiras em Taguatinga Norte (falar com Sérgio ou Waldson).
O hardware deverá seguir o mesmo critério de peso.
Cortes
De posse das madeiras é hora seccionálas nas medidas certas. Foram cortadas 2 peças de jequitibá (30x40x900 cm), 1 peça de marfim (9x4x900 cm) para o braço do baixo, 2 peças de jequitibá (30x40x700 cm), 1 peça de marfim (9x4x700 cm) para o braço da guitarra, 4 peças de jequitibá (30x40x450 cm), 2 peça de marfim (9x4x450 cm) para os tróculos e várias fitas de laminado de imbúia para o acabamento entre as peças. Também foram cortadas 3 peças de marupá nas medidas 4x17x45 cm e 3 lãminas de imbúia e amapá nas medidas de 15x45 cm. Obs.: Os cortes foram feitos em medidas ligeiramente maiores e depois aplainados no desengrosso até chegar às medidas corretas.
Montagem das peças
Tanto os braços quanto os tróculos obedecem ao mesmo critério de montagem, é feito um sandwiche com as madeiras na seguinte sequência: jequitibá - imbúia - marfim - imbúia - jequitibá. Aplica-se cola, junta-se as peças e prende-se com morsetes.
Madeiras antes da colagem
Detalhe de um tróculo já colado e aplainado novamente
De cima para baixo: Braço da guitarra, tróculos e braço do baixo
Prancha do corpo e lâminas antes da colagem
Prensagem
Depois de coladas as peças devem ser aplainadas novamente. Nas fotos acima se pode apreciar o acabamento final nas junções, um detalhe muito bonito.
Por enquanto é isso. Próximo passo: Medidas e construção das escalas. Aguardo todos por aqui.
Oldair Vieira - Cidadão Renascentista
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